domingo, 15 de dezembro de 2013

REALIDADE BRASILEIRA EXTRA * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Eis o EXTRA: REALIDADE BRASILEIRA 4, Edções Símbolo 1977. É só um livro de contos, organizado por João Antonio. Quem não viveu nem pôde, pelo menos ainda, estudar a época, não percebe um detalhe visivelmente patente, feito com segundas intensões, mas que quem sabe, vê claramente uma apropriação do modo da ditadura fazer os cartazes de terroristas procurados, e constata também o jeito frio de expor a foto dos subversivos, ou seja, todas dentro de um retangulusinho, exatamente como está acima. É por isso, e claro, pela grandeza dos autores desta coletânea que ela sempre fez sucesso. Vejam os nomes: João Antonio, Chico Buarque, Antonio Torres, Wander Piroli, Marcos Rey, Marcio Souza, Aguinaldo Silva , Plínio Marcos e Tânia Faillace, com ilustrações de Elifas Andreato, naquela época já um grande ilustrador.
Acima, excerto da apresentação feita por João Antonio, seguida da chamada para o número seguinte: OS CASSADOS: 1500 A 1977.
Pesquisem os métodos de tortura da ditadura e comparem com esta ilustração para o conto de Tânia Faillace.
Analisem o clima psicológico do fotografado, como que atento com alguma coisa,  produzido pela equipe de arte junto com o ilustrador...
Barbudos e cabeludos eram o TERROR da época...Sintam que a intensão é justamente apresentar o autor como um personagem estigmatizado pela época, de repressão, de censura, de suspeição de tudo que fosse diferente....
Aguinaldo Silva ficou ótimo com esta estética black power, tão propagada pelo Partido Panteras Negras norteamericano e que era devidamente cassada pela ditadura militar brasileira.
Só pra fechar, ninguém hoje tem condições sequer de imaginar a tamanha dificuldade que era expor um livro deste naquela época, fosse nas bancas de jornais fosse nas livrarias, porque era apreensão certa...
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Opinião Literária
Falei levemente sobre a estética gráfica do livro porque não sou nenhum pitaqueiro de plantão pra ficar dando juizo de valor sobre o trabalho artístico dos outros. Talvez eu tenha agido assim pelo carinho que eu tenho com Elifas Andreato, por ele ser uma pessoa da minha geração, por ter passado por um montão de percalços idênticos aos meus e por ser uma pessoa de visão crítica sobre tudo. Então por esse conjunto de considerações, eu coloco Elifas Andreato no lugar mais alto que houver no campo da produção gráfica, sei lá, mas um Nobel.

Quero ainda expressar minha opinião sobre o livro. Preciso dizer, antes de tudo, que eu o li na primeira hora. Ou seja, no momento em que desempacotei-o no depósito da distribuidora em que eu trabalhava naquela época, ele veio para as minhas mãos e daí em diante não o larguei mais. Eu o considero um dos maiores livros de contos que eu conheço, e olhe que não são poucos, desde Poramduba Amazonense até ao mais recente lançamento, não conheço um só conjunto de contos que tenha tamanha densidade estico-literária. Poderíamos responsabilizar a alta qualidade dos autores. Taí o Antonio Torres na Academia Brasileira de Letras, recen-empossado para atestar o que digo. Taí também o Chico Buarque, que a cada investida literária, revela mais e mais se revela no campo literário. É sem dúvida um grande narrador. Poderíamos dizer ainda que os textos são fortes, carregados de dramas humanos porque estávamos sob uma ditadura, e tecer loas à máxima de que os melhores cantos de liberdade vêm da cadeia etc, mas o Aguinaldo Silva continua um dos maiores na ficção humanística, dando cada vez de si na abordagem dos dramas relegados na chamada grande literatura, ou seja, o problema da homossexualidade. Imaginem a situação dele e do Caio Fernando Abreu durante a ditadura militar, aonde eles iriam publicar seus textos em se tratando de homossexuais? No conto dele, ele explora o histórico Cine Íris, aonde o público predominante são homossexuais e apresenta "uma relação" nesse ambiente. Isso dito hoje, em pleno exercício das liberdades civis, é até banal. Mas naquele momento não se podia sequer colocar em ficção. Era o império da ditadura militar, 1977. A censura era "prévia" e qualquer coisa que o "Seu Censor" cismasse, ele cortava e ninguém podia publicar o que bem entendesse. Mas a ginástica que estes autores fizeram para conseguir a aprovação destes textos não foi pequena. O modo como estão ditas certas coisas é uma prova disso. É preciso ler o livro, porque eu não tenho condições de reproduzí-las aqui.
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